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sexta-feira, 4 de novembro de 2011

ZEZITO GUEDES E O CORDEL


O cordel aqui reproduzido, de autoria do alagoano Zezito Guedes, trata das práticas de cura populares e recolhe formas do povo lidar com várias doenças, entre elas a epilepsia que o poeta considera um “tormento”.
 
[ Fonte: www.historiaecultura.pro.br ]
 
“Meizinhas do Povo”
Autor: Zezito Guedes
 
 
Hoje, eu resolvi falar / Nas ervas do meu sertão
Que servem p’ra fazer chá / Ou p’ra fazer infusão
P’ra falar na letra a / Tem a folha de arruda
Quem no ouvido botar / Essa dor logo se muda.
 
Baba- timão é indicado / P’ra quem tem inquietação
Ele é muito procurado / P’ra quem tem inflamação
Também tem erva babosa / Que seu cheiro não agrada
É também muito amargosa / Mesmo assim é procurada.
Tem o mijo de ovelha / Para banho de mulher
O cheiro não se assemelha / A uma erva qualquer
Tome chá de quina-quina / Que tem muita indicação
E o povo sempre ensina / Para febre ou infecção.
A raiz de fedegoso / Para impingem ou parasita
Se não é muito gostoso / Mas toma quem necessita
Tem capim federação / P’ra uretra é bem usado
Para essa inflamação / Ele é muito procurado.
A raiz de ouricurí / Serve também para rins
Se você não acha aqui / Mande buscar nos confins
Pra mulher de veia fraca / Que o doutor chama varizes
Tome a língua de vaca / Mas não as folhas, as raízes.
Diabete lhe atormenta / Pois o remédio é um só
E você come até pimenta / Tome o chá de mororó
Pra quem tem colesterol / E só come mais verdura
Cebola roxa é o melhor / Para queimar a gordura.
E a flor de mussambê / Que muita gente conhece
É muito bom de beber / A tosse desaparece
Vassourinha de botão / É erva de todo quintal
E aqui no meu sertão / Se toma p’ra qualquer mal.
Quixabeira é planta nossa / Serve pra muita meizinha
A raiz ou a casca grossa / E tem também a frutinha
O angico é bem conhecido / Remédio aqui do sertão
Quem tem o braço partido / Faz da casca encenação.
P’ra sair bem o sarampo / Faça chá de flor de tôco
Mas não é erva do campo / Isso é remédio de louco
Cortar leite após o Parto / P’ra mulher é um colôsso
Um rosário de carrapato / Pendurado no pescoço.
Hemorragia em mulher / Não faça chá de malissa
Nem de outra erva qualquer / Chá de couro de preguiça
A caatingueira rasteira / É o remédio de homem fraco
Basta tomar uma asneira / Que não enjeita buraco.
Folha de samba coité / Para quem tem ferimento
Ou então machucou a pé / Logo acaba o sofrimento
Mas acredite que exista / Uma erva muito cara
É indicada p’ra vista / Jaborandí esta é rara.
Se o dito corta um pé / E não tem o que botar
Encha de pó de café / Para sangria parar
Lambedor de Jatobá / P’ra quem tem constipação
Pode até experimentar / Que vê logo a reação.
Se faz também de juá / Um outro bom lambedor
Só é mais ruim de tomar / Porque tem um amargor
A raiz de urtiga branca / Para quem tem alergias
Doença na pele estanca / Serve também para as vias.
Para gripe ou resfriado / Faça o chá de alecrim
Mas não vá ficar zangado / Se o remédio for ruim
Quem sofrer de coração / Tome o chá de capim santo
Que é uma erva de ação / E se chama em todo canto.
Cachumba chama o doutor / A doença de papeira
Lama de pote botou / Acabou-se a brincadeira
Tem também a pucumã / Que se usa em ferimento
Não deixe para amanhã / Hoje acaba o sofrimento.
A fruta de gravatá / Para verme de criança
Tanto é fácil de tomar / Como é de confiança
P’ra cortar hemorragia / Tem na bananeira leite
Corte e apare na bacia / Para o doente receite.
Para curar a macacoa / Faça o chá de jericó
Essa erva é muito boa / Você toma uma vez só
Também tem a garrafada / De vinte e cinco sementes
Deve ser bem preparada / Por duas mãos competentes.
Use a cabeça de nêgo / Mas cuidado com a manobra
O Tejo faz seu emprego / Quando lhe morde uma cobra
Se você sofre do rim / E a sua urina embola
Causa até, um farnezim / Tome um chá de carambola.
Tem o olho de arueira / Que o sangue purifica
Não tem o gosto nem cheiro / E a saúde modifica
Ainda tem manacá / Que é uma planta da serra
Ela serve p’ra curar / Muitas doenças na terra.
A folha de carrapateira / Veja bem e não esqueça
Ainda é boa maneira / De curar dor de cabeça
É milindre ou alfinete / Isso aí não é questão
Sua folha é um filete / Muito usado p’ra tensão.
Não existe melhor cura / P’ra doenças de garganta
É bunda de tanajura / E injeção não adianta
Tome leite com mastrús / Para catarro no peito
Não precisa usar capús / P’ra você sair do leito.
Lambedor de jurubeba / Pra fraqueza de pulmão
O seu corpo não tem quebra / E limpa a respiração
Linda flor é a gitirana / Nasce na beira da estrada
Fazer compressa é bacana / Quem levou uma pancada.
A parreira é procurada / P’ra quem sofre empachação
Mas também ela é usada / Pra fazer purgação
Pra coração tem colônia / Que é a folha preferida
P’ra quem sofre de insônia / Ou tem paixão recolhida.
Quem não puder respirar / Aí tem chá de trombeta
E quem tem falta de ar / Pode até tocar cometa
Para o vento que passou / E ofendeu a criancinha
Nem leve para o doutor / Queime logo a camisinha.
Mangericão é cheiroso / E serve p’ra rezadeira
A velha lhe acha ditoso / O melhor pra curandeira
Não falei da papaconha / Que é uma raiz vulgar
Se usa até p’ra quem sonha / Pois é muito popular.
E ainda tem pega pinto / Que serve p’ra fazer chá
Se sentir o que eu sinto / Pode fazer e tomar
A erva de passarinho / Que chamam de parasita
Das folhas faça um chazinho / Que o sangue não se agita.
Quem sofre epilepsia / P’ra minha família é tormento
Mas p’ra quem não conhecia / Chá de osso de jumento
Para quem sofre de ameba / E não sabe quem lhe acuda
Não lhe serve jurubeba / Hortelã folha miúda.
Essas trovas eu já fiz / Falando em toda meizinha
Erva, semente, raiz / Era somente o que tinha.
 
[ Fonte: www.candeeiroaceso.org.br ]
 
 
[ Editado por Pedro Jorge ]

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